Confira os principais trechos do material divulgado internamente aos funcionários do BB nesta terça-feira, após a posse como novo presidente

Em sua experiência profissional, quais os projetos que mais se orgulha de ter participado?

André Brandão: Em2014, eu ainda era presidente do HSBC e fizemos um plano estratégico. O banco estava com dificuldades e a gente apresentou esse plano para o grupo, e esse plano começou a dar certo. A gente juntou o time e fez um trabalho magnífico. Mas talvez a segunda parte mais marcante da minha história foi receber a ligação de que eu teria que vender o banco. E eu tive que vender o banco sem falar para os meus diretores. Eu fui viajar sozinho para vender o banco e isso foi muito triste. Acho que essa seja a experiência mais difícil que eu já tive na minha vida.

Por falar em venda de banco, a privatização do Banco do Brasil está na sua pauta?

André Brandão: Primeiro, privatização é pauta do acionista. Quem tem que decidir isso é o acionista e acho que o Bolsonaro mais de uma vez já falou que não está em pauta e eu posso te falar que nas conversas que eu tive, não com o Bolsonaro, que eu ainda não o encontrei, mas com o ministro, ele pediu para mim que eu tenho que… Ele pediu um gestor do Banco. Ele falou assim: “André, tem várias coisas que a gente precisa fazer e eu preciso de um executivo”. E é o que eu sou, eu sou um executivo. Então eu estou indo lá para trabalhar junto com vocês, colaboradores do Banco do Brasil, para a gente gerir esse banco. Espero poder agregar com a minha experiência, somada à experiência que vocês têm, para a gente melhorar ainda mais esse banco.

Quais devem ser os grandes pilares da sua gestão? Podemos esperar grandes mudanças na estratégia atual?

André Brandão: De novo, ainda não… estou começando a imergir nos detalhes, mas acho que a estratégia está perfeita. Eu vou eleger como prioridade o foco no cliente, na experiência do cliente. Isso é a coisa mais importante que tem. É gratificante ver que vocês estão falando sobre isso, eu vejo isso em todas as apresentações que eu já tive acesso. Eficiência operacional e rentabilidade, evidentemente, também é muito importante. Eu não tenho a menor dúvida de que os pilares estão extremamente corretos e quero ajudar a continuar nesses três pilares.

E queria somar duas coisas importantes. Uma delas é foco na execução estratégica. Uma primeira observação e, desculpa, porque ainda está muito no começo, mas eu sinto que o Banco do Brasil, dada a sua grande escala, ele acaba querendo fazer tudo, e eu acho que a gente vai ter que selecionar algumas áreas e focar mais. Vamos discutir juntamente com os vice-presidentes e chegar em um consenso de que áreas serão. Eu tenho algumas opiniões próprias, mas eu quero discutir esse assunto. Focar e talvez investir mais nessas áreas. Tem discussões de transformação digital, evidentemente. Fazer um foco muito forte nessas áreas, e vão ter outras em que a gente vai não focar tanto.

E o último pilar que eu acho que tem ser mencionado é: pessoas. Eu sei que isso está no contexto da diretoria, mas, na minha administração, o que eu quero muito é trabalhar com as pessoas. O que a gente pode fazer mais? No que eu consigo ajudar os colaboradores? Como é que a gente consegue fazer um trabalho, que já é magnífico no Banco do Brasil, que é a parte de treinamento? Eu estou encantado, sempre ouvi de fora, acho que isso é maravilhoso! Então lidar com pessoas é muito importante, sucessão e tudo mais.

Você falou em transformação digital. Você chega em um momento que toda a indústria passa por uma grande mudança, principalmente por causa das novas tecnologias, como o Pix, Open Banking, várias carteiras digitais chegando ao mercado. Como é que você enxerga os desafios do Banco nesse momento e como enfrentar esse momento?

André Brandão: Olha, essa é uma ótima pergunta. Evidentemente, transformação digital requer investimento. Isso já existe, mas a gente tem que continuar fazendo. Tentar se posicionar, juntamente com a competição, para tentar fazer o desenvolvimento. Eventualmente, fazer parcerias com outras Fintechs que já estão mais avançadas nisso, para a gente ganhar tempo. Mas acho que uma coisa importante quando a gente fala de Open Banking, de tudo que está acontecendo, a competição tradicional e a competição que está vindo das Fintechs, eu acho que a coisa mais importante é a experiência do cliente. Então, volto a um dos pilares que, hoje, já é um dos pilares do Banco do Brasil. Se a gente tiver um cliente que está extremamente satisfeito com o serviço que a gente presta aqui, a gente consegue ter uma retenção mais forte. Então tem um aspecto aí de efetivamente ajudar e ter uma experiência melhor do nosso cliente, cada vez mais. E essa passa por transformação digital, passa por investimentos que a gente tem que fazer.

Com o aumento dessa presença digital, como é que fica o atendimento físico? Nossa rede de agências ainda é uma vantagem competitiva?

André Brandão: Sim, isso é uma coisa que no mundo inteiro tem discussão e, honestamente, o HSBC foi o primeiro banco que, muitos anos atrás, começou a reduzir agências e eu participei disso. Mas você tem que calibrar um pouco. Não é reduzir agências, talvez tenha que reduzir a metragem das agências ou o estilo das agências. Mas, por exemplo o Banco do Brasil, está em várias cidades que só tem ele. Então o que a gente tem que discutir é: cliente ainda gosta de ir na agência? Tem, talvez, serviços que não vão ser mais feitos nas agências e talvez a gente tenha que transformar em escritórios ali, como a gente chama, para servir o cliente, como a parte de ajudar o cliente com investimentos, ajudar o cliente em outras coisas. Ter uma parte de aconselhamento e menos, talvez, a parte transacional da agência. Então talvez precise ter uma mudança de metragem, uma adaptação, e, evidentemente, tem um trabalho de avaliar localizações, e para isso tem que avaliar a rentabilidade das agências e tudo mais. Mas a resposta é: a despeito dessa mudança digital, acho que tem espaço para tudo e tem espaço para agência também.

Nos últimos anos você esteve em Nova Iorque, trabalhando no HSBC. Como é que de lá você enxergava os bancos brasileiros em comparação aos nossos pares estrangeiros e o que dá para trazer dessa experiência para o Brasil?

André Brandão: Olha, primeiro duas coisas… Você, estando em um banco estrangeiro, e olha para o Brasil, os bancos brasileiros têm uma dominância de market share que é imbatível. Essa é a razão pela qual a gente está vendo vários bancos tendo dificuldades de se manter no país. Tem um aspecto de escala que os bancos brasileiros têm, e o Banco do Brasil é um expoente com relação a isso. Tem um aspecto interessante, que é vinculado com esse ponto que eu falei, que é a ausência de bancos estrangeiros conectados. O HSBC foi um deles, o Citibank foi outro, criou em algumas situações uma desconexão, especialmente no varejo, de como é que a gente atende um cliente brasileiro no exterior. O HSBC sempre foi muito bom nisso, de transferência de recursos entre contas entre os países, etc. Vejo isso como uma oportunidade.

Uma das coisas que eu espero do Banco do Brasil é: por que não a gente atender os clientes brasileiros no exterior? Eu sei que o Banco fez investimentos para seguir o nosso cliente no exterior. Eu acho que a situação tem que ser avaliada com um pouco mais de detalhe, mas eu vejo ali uma oportunidade, dado a vacância de parceiros estrangeiros e a gente com uma competição com parceiros, com competidores domésticos. A única coisa interessante que eu acho, que eu já vi na parte estratégica do Banco do Brasil, que no exterior está extremamente avançada e eu participei disso, é a Agenda Ambiental. Financiamentos ambientais, financiamentos sociais, de uma certa forma eu vejo isso enraizado no Banco do Brasil. Eu acho que a gente pode extrair mais valor e talvez fazer uma promoção disso com os nossos colaboradores, com os nossos clientes. Acho que tem uma coisa que está aí pós pandemia. Isso virou uma coqueluche e a gente vai ter que, talvez, investir nesse processo e extrair mais valor da nossa marca do que já fazemos.

Você acaba de chegar e ainda vai entender a nossa estrutura, os nossos números. Mas, sobre home office, como você viu a ampliação do trabalho a distância na pandemia e o que a gente pode esperar para o futuro?

André Brandão:Apandemia trouxe um efeito colateral interessante com relação à eficiência de fazer o home office. Acho que isso é uma coisa que veio para ficar. Não na sua totalidade, evidentemente. A agência tem que continuar estando na agência. Tem áreas que precisam estar na matriz ou nos escritórios, mas tem situações que a gente pode ter um pouco mais de flexibilidade. Eu acho que a principal coisa que eu aprendi nesse processo, que a gente acelerou por causa da pandemia no home office, é proporcionar flexibilidade para o nosso colaborador. Então como é que a gente vai fazer isso aqui? É isso que eu quero entender um pouco mais. Ainda é cedo, como você bem colocou, mas acho que é uma coisa que a gente tem que pensar. Que dizer, se você é um gerente de relacionamento e passa metade da semana viajando, porque você precisa ir para o escritório? Como é que a gente pode ter escritórios que são mais, como chamamos, mais de hotelaria, do que necessariamente um escritório fixo para o colaborador.

As mulheres, no sistema financeiro, ocupam muito menos posições de liderança se comparadas aos homens. No Banco do Brasil o retrato é ainda pior. Se a gente for olhar a questão racial, aí a diferença das oportunidades é bem maior ainda. Como avançar e superar esse quadro?

André Brandão: Eu acredito muito na diversidade. Eu acho que isso é importante para a cultura do Banco ou qualquer lugar de trabalho. Quanto mais diversidade melhor. A gente diz que, quando você cria todo mundo igual, homem vindo do mesmo lugar e etc, cria um certo.., uma uniformidade de pensamento. Quer dizer, quanto mais você tem essa diversidade, melhor é para pensar em negócios e para alavancar muitas coisas. Então eu acredito na diversidade.

O que mais pesou na sua decisão de aceitar o convite e de ser presidente do Banco do Brasil?

André Brandão: Primeiro, eu queria voltar ao Brasil. Estava há quase cinco anos fora. Tem uma hora na sua família que você tem que decidir se você quer ficar fora, dentro, e eu queria voltar para o nosso país, que eu gosto muito. Fiquei lisonjeado de poder servir o Brasil, quando o ministro me ligou… Evidentemente, presidente do Banco do Brasil é uma posição extremamente importante. Isso é uma máquina, é imenso, é muito bom. Então tem o aspecto de voltar ao meu país, de ajudar o meu país, e espero que consiga fazer isso. E uma experiência profissional que é única. Então não foi muito difícil, não demorou, para ser muito honesto. O ministro é muito talentoso em convencer as pessoas. Foi muito rápida a decisão. Depois foi mais complicado para executar o processo, mas a decisão foi no telefone mesmo.

Olhando para o futuro, como será o Banco do Brasil daqui a muitos anos mais?

André Brandão: O Banco do Brasil já é muito importante. O que eu quero é que ele seja o banco que os clientes tenham prazer em ter relacionamento, o Banco que tem uma experiência com o cliente superior aos outros e, evidentemente, com produtos. Com isso, o Banco vai ser mais eficiente, vai ganhar mais dinheiro. Espero que o Banco continue com essa característica de ser dominante em várias áreas e com uma parcela do mercado substancial e que espero que cresça.Fonte: Agência ANABB