“A trajetória de um empresário é sempre desafiadora”
Foi em um armazém que comprava e vendia produtos coloniais, em Palmitos, no Oeste, que começou a trajetória de um dos grandes empresários de Santa Catarina. Valdir Tombini tinha 16 anos. Hoje, aos 76, preside o Grupo Tombini, uma referência no Brasil quando se fala em transporte rodoviário de cargas. Com 14 filiais pelo país, grupo possui mais de 1,8 mil caminhões próprios e emprega cerca de 2,6 mil colaboradores.
Há 53 anos, a empresa atende aos mais diversos segmentos, como alimentos, carnes e pescados, cosméticos, higiene e beleza, lácteos e sorvetes. Desde 2020, Valdir é presidente de Honra da Fetrancesc. Também faz parte da diretoria do Sindicato das Empresas de Transporte e Logística de Chapecó (Sitran).
Esta semana, em Brasília, recebeu a 37ª Medalha de Mérito do Transporte NTC. Criada em 1984, a condecoração da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) é uma das mais importantes do setor, em reconhecimento a pessoas que se destacam pela contribuição ao desenvolvimento do Transporte Rodoviário de Cargas no Brasil.
Ele conversou com a Coluna e contou um pouco sobre sua trajetória.
Pelo Estado – Como o senhor entrou no setor de transporte rodoviário de cargas? Poderia nos contar sua história?
Valdir Tombini – Eu comecei minha trajetória aos 16 anos. Na época, trabalhando com meu pai Ernesto Tombini no seu armazém de compra e venda de produtos coloniais. Em 1969, adquirimos nosso primeiro caminhão, e comecei a viajar transportando suínos para São Paulo. Um ano depois, após o falecimento de meu irmão Odacir Antônio Tombini, assumi a administração da empresa Tombini & Romani, na compra e venda de cereais e suínos. Em 1975, adquirimos nossa primeira carreta graneleira e, em 1977, a primeira carreta frigorífica.
Pelo Estado – O transporte rodoviário de cargas enfrenta problemas crônicos como infraestrutura precária, alto custo do diesel e insegurança nas estradas. Como o senhor lida com esses desafios no dia a dia?
Valdir Tombini – Temos investido na renovação constante da nossa frota, que oferece mais conforto aos motoristas e mais segurança nas estradas. Ao longo dos anos, também fomos nos adaptando às exigências dos nossos clientes no que se refere às tecnologias embarcadas. Os custos de diesel representam em torno de 40% de nossas despesas, então investimos na capacitação dos nossos motoristas para uma condução mais econômica, buscamos centralizar em nossas bases a maior litragem para o abastecimento de nossa frota e ter bons parceiros nas estradas para oferecerem estrutura segura e adequada aos motoristas e, claro, com boas negociações de valores.
Pelo Estado – Houve algum momento decisivo que marcou a trajetória da empresa?
Valdir Tombini – Acredito que a trajetória de um empresário é sempre desafiadora. No início, quando tínhamos apenas dois caminhões e trabalhávamos com a compra e venda de produtos coloniais, um grande e importante cliente decretou falência e fomos muito afetados, pois tínhamos grandes valores a receber. Levamos quase três anos para nos reestabelecermos e reequilibrarmos a empresa financeiramente. Aprendemos, então, a não nos expormos a negócios que não fossem seguros.
Um outro momento importante foi quando, após uma forte crise no segmento de grãos, decidimos investir na aquisição de carretas frigoríficas e nos inserirmos em um novo negócio.
Depois, no ano 2000, quando abrimos nossa filial em Jundiaí (SP), após ganharmos uma concorrência em um projeto de um cliente. Naquela época, estávamos sem muitos recursos para investimento, com uma sala alugada em um pátio de uma transportadora e apenas uma funcionária. Era o início daquela que se tornaria, em pouco tempo, a nossa mais importante filial, com uma estrutura completa para manutenção e abastecimento próprio da frota.
Outro momento desafiador foi no ano de 2007, quando a sociedade passou a ser composta por mim e pelos meus filhos, Marivalda e Clecio, e todas as decisões que essa mudança acarretou.
Foram muitas crises e instabilidades econômicas enfrentadas ao longo desses mais de 53 anos de história e estamos sempre nos desafiando e sendo provocados a investir, crescer, preparar pessoas, a nos adaptarmos às novas tecnologias e às necessidades e exigências de nossos clientes.
Pelo Estado – A tecnologia tem sido forte aliada no setor de transporte. Como a sua empresa tem utilizado esse recurso a seu favor?
Valdir Tombini – A tecnologia é nossa aliada nos processos internos, administrativos e, principalmente, na logística e na gestão da segurança por meio da telemetria, que nos fornece informações importantes para o controle da condução segura e econômica.
Pelo Estado – Há dificuldade em encontrar bons motoristas no mercado atualmente? Sua empresa já sofre com a falta de mão-de-obra?
Valdir Tombini – Acredito que este seja o desafio de todas as empresas, independentemente do segmento. Com as ampliações de frota e novas operações em nossos clientes, sempre temos oportunidades de trabalho para motoristas categoria E e vamos ajustando conforme a região onde residem. Felizmente não temos falta de motoristas e temos 100% da nossa frota rodando, mas de fato, temos sentido mais dificuldade nos processos de recrutamento e seleção. De qualquer forma, vemos como uma profissão promissora para jovens que queiram atuar no transporte por ter uma remuneração bem atrativa.
Pelo Estado – Como o senhor enxerga o Grupo Tombini no futuro?
Valdir Tombini – Vejo que seguiremos buscando oportunidades, capacitando nosso time, prestando serviços em um alto nível de qualidade aos nossos clientes e contando com bons parceiros para isso.
Pelo Estado – O senhor construiu uma trajetória sólida em um dos setores mais exigentes da economia brasileira. Qual o segredo para sobreviver num mercado tão competitivo por mais de 50 anos? Que conselho daria a quem está começando agora nesse ramo?
Valdir Tombini – São 53 anos de história. Claro que tivemos muitos desafios, mas para sobrevivermos neste mercado competitivo, sempre agimos com ética, estabelecemos relações duradouras com nossos clientes e com nossos fornecedores – o que muito nos orgulha, investimos e melhoramos nossos processos a cada ano, aproveitamos as oportunidades, fazemos a gestão financeira com responsabilidade e cautela, mas o mais importante: nós formamos grandes profissionais, que começaram na empresa sem experiência e hoje ocupam posições estratégicas.
Que tipo de legado o senhor gostaria de deixar como empresário do transporte?
Valdir Tombini – Eu acredito que o trabalho, com ética, transparência e honestidade devem prevalecer, no transporte ou em qualquer atividade que venha a realizar. Como legado, penso que a fé em Deus, o amor à família, a honra, a persistência, a boa gestão financeira, a humildade e os bons relacionamentos.
Clique aqui para ver a coluna Pelo Estado PE_entrevista_21-09-2025
Produção e edição
Por Celina Sales para APJ/SC e ADI/SC
Contato: peloestado@gmail.com