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Mandados em Criciúma e Itajaí mostram como a estrutura bilionária do PCC alcançou o setor de combustíveis no estado

A Operação Carbono Oculto, considerada a maior ofensiva contra o crime organizado no setor de combustíveis no Brasil, também expôs ramificações em Santa Catarina. Deflagrada nesta quinta-feira (28), a ação mobilizou cerca de 1.400 agentes públicos em dez estados, incluindo equipes da Polícia Federal, Receita Federal, Ministério Público e polícias estaduais.

No território catarinense, foram cumpridos dois mandados em Criciúma e um em Itajaí, dentro de uma investigação que aponta a infiltração de facções criminosas no controle de postos de combustíveis. De acordo com levantamento nacional, ao menos cinco estabelecimentos do estado estariam sob domínio de grupos ligados ao crime organizado, incluindo integrantes do PCC.

As fraudes identificadas vão desde a adulteração de combustíveis até práticas mais sofisticadas, como vendas simuladas e uso de notas fiscais frias para movimentar grandes volumes de recursos. Consumidores eram lesados ao abastecer com produtos fora das especificações da ANP ou recebendo menos combustível do que o informado nas bombas.

Outra frente revelada pela operação foi a pressão sobre empresários locais. Há relatos de donos de postos que venderam suas empresas, mas nunca receberam o valor combinado. Ao cobrarem os compradores, passaram a sofrer ameaças de morte — estratégia comum usada para ampliar o domínio das facções sobre o mercado formal.

Em todo o Brasil, a operação investiga mais de 350 alvos entre empresas e pessoas físicas, e já identificou um esquema que teria movimentado mais de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024. Em Santa Catarina, o delegado Daniel Régis, diretor da DEIC, destacou que o uso de postos de combustíveis por facções “não é novidade, mas os números apontam para uma ampliação preocupante da rede criminosa”.

O levantamento nacional mostra que São Paulo é o estado mais crítico, com 290 postos sob influência de facções, seguido por Goiás (163), Rio de Janeiro (146) e Bahia (103). Embora SC apareça com um número menor, especialistas alertam para a importância de se observar a interiorização do crime organizado por meio de negócios aparentemente legítimos.

Para o especialista em segurança pública Welliton Caixeta Maciel, o fenômeno é antigo, mas ganhou força nos últimos anos. “O setor de combustíveis sempre foi estratégico para lavagem de dinheiro, dada a complexidade da fiscalização e a grande circulação de recursos. O que vemos hoje é a consolidação de uma rede nacional que vai além do tráfico de drogas, atingindo a economia formal de estados como Santa Catarina”, avaliou.

A presença desses grupos no estado reforça a necessidade de cooperação entre órgãos de segurança e fiscalização, além de políticas públicas mais rigorosas para coibir fraudes que não só impactam os cofres públicos, mas também colocam em risco consumidores e empresários locais.

Acompanhe abaixo uma linha do tempo resumida, destacando os principais desdobramentos dos fatos da investigação a nível nacional:

📌 Linha do Tempo — Operação Carbono Oculto

🟢 Infiltração na economia
PCC começa a migrar parte de suas atividades do tráfico para setores legais, especialmente combustíveis e mercado financeiro.

📊 Fundos e mercado financeiro
Criação de 40 fundos de investimento em cascata, patrimônio estimado em R$ 30 bilhões.
Controle por operadores da Faria Lima, dificultando rastreio de beneficiários.

🏭 Infraestrutura montada
Financiamento de 4 usinas de álcool, 1 terminal portuário e frota de 1.600 caminhões.
Aquisição de 100 imóveis, incluindo fazendas avaliadas em R$ 31 milhões e mansão em Trancoso de R$ 13 milhões.

💳 Fintechs e “banco paralelo”
Empresas de pagamento movimentaram R$ 46 bilhões sem rastreamento.
Usadas para financiar importadoras que traziam metanol, nafta e diesel para adulteração e fraudes fiscais (prejuízo de R$ 7,6 bilhões).

⛽ Postos como lavanderia
Mais de 1.000 postos usados para lavar dinheiro.
Movimentaram R$ 52 bilhões (2020–2024).
140 deles não tinham operação real, mas emitiram notas de R$ 2 bilhões.

🏢 Empresas e personagens envolvidos
Fintechs: BK Bank, Bankrow.
Gestoras: Reag, Trustee, Banvox.
Distribuidoras: Aster, Copape, Duvale, Arka, Rodopetro, Rede Sol Fuel, Port Brazil.
Usinas: Carolo, Virgolino de Oliveira, Itajobi, Furlan, Rio Pardo, Comanche, Goiás Bioenergia.
Personagens centrais: Beto Loco, Mohamad Hussein Mourad, Ricardo Magro.

📉 Impacto no mercado
Ações da Reag (REAG3) despencam 17% após deflagração da operação.
Investidores reagem à exposição do envolvimento de gestoras.

⚖️ Ação da Justiça e autoridades
1.400 agentes mobilizados em 10 estados.
Sequestro de bens e bloqueio de recursos.
Mais de 350 alvos seguem sob investigação.

🗣️ Declaração oficial
Ministro Ricardo Lewandowski:
“A criminalidade organizada está migrando da ilegalidade para a legalidade, infiltrando-se na economia formal.”